a transexual Márcia Gadelha, cujo nome em registro é Marcos Antônio Gadelha

a transexual Márcia Gadelha, cujo nome em registro é Marcos Antônio Gadelha

A servidora Márcia Gadelha, do Setor de Cerimonial da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), será protagonista de um documentário que está sendo realizado pelo cineasta paraibano Bertrand Lira, com o apoio da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e por meio do Núcleo de Produção Digital (PND) do governo federal, com base em fomentos distribuídos para efetivação do ‘Programa Brasil Sem Homofobia’.

Com o título provisório de ‘Diário de Márcia’, o documentário, de acordo com a transexual Márcia Gadelha, cujo nome em registro é Marcos Antônio Gadelha, pretende focalizar na história de vida de uma transexual bem sucedida profissionalmente, sem que tenha se prostituído, como grande parte dessas pessoas que não conseguem enfrentar o desafio de encarar a sociedade sendo diferente do padrão de comportamento vigente.

Já para o cineasta, a perspectiva do documentário é evidenciar que a vida de um travesti ou transexual pode ter um caminho diferente. “A Márcia é uma vencedora. Enfrentou muitas batalhas difíceis e agora pode ser um espelho para quem passa por situações semelhantes”.

Com estréia prevista para o período entre agosto e novembro, o vídeo aborda sua trajetória de vida, desde o convívio familiar até suas conquistas profissionais, passando pelas dificuldades em ser aceita nos ambientes escolares. O vídeo contém imagens dos seus ambientes de trabalho, a CMJP e a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (Funad-JP), onde trabalha há 20 anos, e do Paço Municipal. Contará com depoimentos de sua irmã e de seus colegas de trabalho, além de suas impressões sobre sua vida e das iniciativas públicas contra a homofobia e sobre a inclusão social dos travestis, como, por exemplo, a utilização do “nome social” que será explanado no vídeo.

Desde fevereiro deste ano, transexuais e travestis que moram em João Pessoa podem se identificar com seu ‘nome social’ na rede de atendimento da Prefeitura de João Pessoa (PMJP). A cidade de João Pessoa é a primeira em todo o Nordeste a garantir que travestis e transexuais possam utilizar o “nome social” nos atendimentos em órgãos e instituições ligadas ao Governo Municipal. O objetivo é diminuir o preconceito e a discriminação que esse público sofre no acesso aos serviços públicos.

Ao se matricular na escola, fazer uma consulta no Programa Saúde da Família (PSF) ou se inscrever em alguma oficina e cursos oferecidos pelos Centros de Referência de Cidadania (CRCs), no formulário a ser preenchido, além das informações que já são prestadas, haverá um novo campo para que os transexuais e travestis (masculinos e femininos) possam dizer o nome com o qual se identificam socialmente.

‘Brasil Sem Homofobia’

O ‘Programa Brasil Sem Homofobia’ foi lançado em 2004 a partir de uma série de discussões entre o governo federal e a sociedade civil organizada com o intuito de promover a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação à homofobia.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR) é o órgão responsável por coordenar as diversas ações desenvolvidas para atingir os objetivos do ‘Programa Brasil Sem Homofobia’. São ações de capacitação e desenvolvimento, apoio a projetos de governos estaduais, municipais e organizações não-governamentais e implantação de centros de referência para combate a homofobia em todo o país.

O ‘Brasil Sem Homofobia’ busca o reconhecimento e a reparação da cidadania da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, inegavelmente uma parcela relevante da sociedade brasileira, que sofre com o preconceito e a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, além de outros como de raça, etnia, gênero, idade, deficiências, credo religioso ou opinião política.

Perfil

Márcia é natural de João Pessoa, onde foi registrado com o nome de Marcos Antônio Gadelha. Formou-se em Pedagogia pela Universidade federal da Paraíba (UFPB) em 1987, e no mesmo ano conseguiu ingressar no curso de Especialização em Educação Especial. Mais tarde, fez um curso de Cerimonial e Taquigrafia. Ela também fala fluentemente, além do português, francês e espanhol. Trabalha no Setor de Cerimonial da CMJP e na Funad.

“Tenho de agradecer à CMJP, que é uma Casa que tenho muito orgulho de trabalhar nela. É uma Casa que tem muito respeito pela diversidade. Em especial o presidente Durval Ferreira (PP), pelo qual eu tenho o maior carinho, e a diretora-geral Vaneide Araújo, que tem me dado muito apoio. E também todos os vereadores, porque amo a todos eles. Tenho o maior respeito do mundo por todos. Até porque me faço respeitar, isso é muito bom salientar”, confidenciou a servidora.

Márcia ainda é uma ativista das causas do ‘Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis e Transexuais’ (GLBT), desempenhando sempre um trabalho de aceitação das diferenças.

“Estamos enfrentando dificuldades tremendas por conta de grupos fundamentalistas, que não se furtam em agredir a comunidade GLBT, sempre negando nossos direitos. E dizem que fazem isso em nome de Deus. Mas até onde eu saiba, o princípio básico da Bíblia é o amor ao próximo: ‘Se não amas aquele que você vê, como vai amar aquele que não vê’. E aquele que você vê é seu próximo. E eu sou seu próximo também. Sou um ser humano também. E não entendo a posição desses grupos fundamentalistas, que são de qualquer religião, em se opor a nossas conquistas”, declarou.